Queda de Gigantes, romance de audaciosas 912 páginas, é o primeiro livro da trilogia O Século. Conhecemos através dele os acontecimentos do primeiro terço do século XX, cujo mote central está na Primeira Grande Guerra (ou Primeira Guerra Mundial, como passou a ser conhecida depois) e também na Revolução Russa, que pode ser considerada uma das consequências da guerra.
Bem, vocês já devem ter a ideia clara em suas mentes leitoras de que este é um livro para pessoas que apreciem profundamente a história mundial. Quem não gosta deste assunto, não gostava ou gosta, embora duvide muito que quem está na escola vá ler o livro dessa matéria, dificilmente conseguirá chegar às duzentas páginas, que dirá ao final da obra.
Eu, por outro lado, sempre fui fã do assunto, principalmente a parte que diz respeito à história moderna: os detalhes das Grandes Guerras sempre me fascinaram. Embora não goste de gravar datas, saber como foi que as coisas se sucederam é extremamente satisfatório para minha mente curiosa.
O fato de ter mais de 900 páginas não quer dizer que o livro é uma narrativa monocórdia e exaustiva dos fatos da guerra, muito pelo contrário. De forma brilhante, devo salientar, o autor conseguiu contar uma série de fatos relevantes: os detalhes históricos e muitos protagonistas reais, envolvendo-os em um romance ficcional que retrata a vida de cinco famílias.
Na Grã-Bretanha conhecemos a família Williams. O pai é um sindicalista, o filho, Billy, trabalha em uma mina de carvão e a filha mais velha, Ethel, trabalha na casa do conde Fitzherbert, dono das terras onde eles moram.
Também acabamos por conhecer a família Fitzherbert, cujo patriarca, o conde, tem uma crença profunda na imutabilidade das classes sociais. Para eles os pobres sempre foram e sempre serão inferiores. Ele é casado com a chatíssima princesa Bea, uma russa que tem tanta beleza quanto frieza em seu coração. Em contraponto à eles, e para salvar a família na minha opinião temos a irmã do conde, uma jovem feminista, que defendo os direitos das mulheres ao voto e cuida de um programa que assiste mães solteiras em Londres.
Nas ruas de Moscou conhecemos Grigori Peshkov, um russo que tem o sonho de ir morar na América arruinado pelo seu irmão inconsequente, Lev Peshkov. Forçado a ficar em seu país, ele acaba sofrendo as consequências dos dias difíceis que estão por vir, enquanto Lev continua ainda mais irresponsável nos Estados Unidos.
É deste país que vem Gus Dewar, assessor do presidente Woodrow Wilson. Ele é um jovem que terá muita influência sobre os acontecimentos futuros, e acompanhamos suas experiências tanto no campo diplomático quanto na vida pessoal.
Para finalizar, da Alemanha, cujo ponto de vista não poderia faltar por motivos óbvios, vem Walter von Ulrich, um jovem idealista, cheio de sonhos e desejos que estão prestes a ser adiados (ou destruídos) pela guerra.
Cada um deles, seus familiares e pessoas próximas, acabam nos contando suas histórias. Conhecemos seus sonhos, medos, desejos mais íntimos e mergulhamos em uma intrincada rede que acaba por conectá-los em um dos eventos mais marcantes e tristes da história da raça humana.
Como pudemos chegar ao ponto onde o orgulho, puro e simples, arrastou milhões de pessoas para a morte cruel e sangrenta, sem honra, sem motivo e sem explicação?
Ken Follet, além de nos dar uma aula de história cuja maioria dos detalhes eu já conhecia nos apresenta personagens cativantes que poderiam muito bem ter existido naquela época. Muitos deles me deram esperanças de que atrocidades como a das Grandes Guerras jamais ocorrerão novamente. Porém, nós humanos, sempre surpreendemos com novos atos injustificados e estúpidos, na maioria das vezes. No final do livro os próprios personagens dizem ter certeza de que não deixariam outra vez uma guerra como aquela acontecer (pensamento que eu tenho certeza que foi real para quem viveu aqueles dias) e nós sabemos muito bem que foi possível sim, apenas alguns anos depois, acontecer coisa ainda pior!
Eu, particularmente, estou muito curiosa para ler o próximo volume, que ainda não foi lançado, pois a Segunda Guerra Mundial é ainda mais fascinante e triste que a primeira. O personagem Adolf Hitler sempre me impressionou muito. Também estou curiosa para saber se o autor, como todo bom americano, irá jogar a culpa toda em cima deste homem. É um crime dizer que apenas uma pessoa demoveu outros tantos milhões a se matarem, embora seja inegável sua grande contribuição. Acho, porém, que o autor não irá fazer tal coisa, pois em Queda de Gigantes ele demonstrou uma imparcialidade pouco vista em obras de ficção que tratam deste assunto.
Seja como for, só tenho a dizer que amei o livro e que recomendo muito para quem, além de conhecer uma história rica e mágica de amor, traições e ganância, quer ter uma noção de como um dia já fomos longe na busca por poder e como podemos evitar que isso aconteça novamente.
Um ponto importante a ser ressaltado é a edição impecável da editora Sextante. Não foi possível a mim encontrar um erro sequer durante toda a leitura, fato que é louvável e merece os devidos créditos.
Avaliação (de 1 a 5):